ATA DA CENTÉSIMA SESSÃO ORDINÁRIA DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 12.09.1988.
Aos doze dias do mês de setembro do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Centésima Sessão Ordinária da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos foi realizada a segunda chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adão Eliseu, Antonio Hohlfeldt, Aranha Filho, Artur Zanella, Bernadete Vidal, Caio Lustosa, Cleom Guatimozim, Clóvis Brum, Elói Guimarães, Ennio Terra, Flávio Coulon, Frederico Barbosa, Gladis Mantelli, Hermes Dutra, Jaques Machado, Jorge Goularte, Jussara Cony, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Mano José, Nei Lima, Nereu D’Ávila, Nilton Comin, Paulo Satte, Rafael Santos, Raul Casa, Teresinha Irigaray, Valdir Fraga, Werner Becker e Wilton Araújo. Constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou ao Ver. Jorge Goularte que procedesse à leitura de trecho da Bíblia. A seguir, o Sr. Secretário procedeu à leitura das Atas da Nonagésima Nona Sessão Ordinária e da Quadragésima Quarta Sessão Solene, que, foram aprovadas. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Aranha Filho, 03 Pedidos de Providências, solicitando que seja estendido o horário de circulação da linha T1-Urca, até às vinte e quatro horas e, também, que os ônibus circulem nos fins de semana e feriados; desobstrução de uma boca-de-lobo, localizada na Rua Balduino Rohering, esquina com a Rua Mathias José Bins, lado do passeio do Clube Três Figueiras, no Bairro Três Figueiras; criação de um brique, denominado “Brique da Auxiliadora”, tendo por localização o prolongamento da Rua Freire Alemão, esquina com a Rua Vinte e Quatro de Outubro; pelo Ver. Artur Zanella, 01 Pedido de Informações, acerca do prédio da antiga Delegacia de Polícia da Restinga; pelo Ver. Ennio Terra, 02 Pedidos de Providências, solicitando alargamento de parte da Av. dos Gaúchos, entre as Ruas A e B da Vila Nova Brasília; desvinculamento das linhas de ônibus IPE, CEFER e BRASÍLIA do terminal de ônibus da Av. Antônio de Carvalho; pelo Ver. Hermes Dutra, 01 Pedido de Providências, solicitando rebaixamento do passeio na Rua São Lucas, em frente ao n° 160, esquina da Av. Jordão; pelo Ver. Nilton Comin, 02 Pedidos de Providências, solicitando remoção da caliça da Rua Visconde de Pelotas, em frente ao n° 95/309; troca de lâmpadas queimadas na Rua Visconde de Pelotas, em frente aos n°s 95 e 115; pelo Ver. Paulo Satte, 01 Emenda ao Projeto de Lei do Executivo n° 112/88 (proc. n° 2783/88), que autoriza alienação de imóvel para Azis Gonçalves Nunes; pelo Ver. Rafael Santos, 01 Pedido de Providências, solicitando limpeza das bocas-de-lobo nos seguintes locais: Av. Farrapos com a Rua Buarque de Macedo, Av. Berlim em toda a extensão, Rua Buarque de Macedo, em toda extensão. Do EXPEDIENTE constaram: Ofício n° 04/88, do Tribunal de Contas; Cartão da Gaúcha Car. Após, a Srª Presidente declarou empossado na Vereança o Suplente Marcinho Medeiros, em substituição ao Ver. Paulo Sant’Ana, em Licença para Tratamento de Saúde no período de doze a vinte do corrente, e, informando que S. Exa. já prestara compromisso legal nesta Legislatura, ficando dispensado de fazê-lo, comunicou-lhe que passaria a integrar a Comissão de Urbanização, Transportes e Habitação. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Caio Lustosa registrou o transcurso dos quinze anos do golpe militar ocorrido no Chile, solidarizando-se com o povo daquele país e salientando a importância da participação desta Casa na mobilização chilena por um retorno da democracia. Saudou os cidadãos chilenos presentes no Plenário. Após, o Sr. Presidente convidou o Sr. João Carlos Sandoval Ortiz a fazer parte da Mesa, representando a colônia chilena de Porto Alegre. Ainda em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Clóvis Brum associou-se ás lutas empreendidas pelo povo chileno contra o golpe militar sofrido por aquele país há quinze anos atrás, protestando contra as violências que vêm sendo praticadas pelo atual governo militar do Chile. O Ver. Antonio Hohlfeldt discorreu sobre plebiscito a ser realizado no Chile com vistas à aceitação ou não do regime de governo hoje ali vigente, defendendo o direito de voto, neste plebiscito, dos exilados chilenos que se encontram nos mais diversos países. O Ver. Adão Eliseu falou sobre a importância das Câmaras de Vereadores para a busca de soluções aos problemas nacionais. Comentou a forma como ocorreu o golpe militar no Chile, analisando as conseqüências e os reflexos do mesmo sobre as lutas comunistas mundiais. O Ver. Lauro Hagemann teceu comentários acerca da situação real vivida atualmente pelo Chile, salientando estudos mexicanos que atentam para a inveracidade das informações econômicas e sociais divulgadas pelos órgãos oficiais daquele país. Saudou os chilenos pela luta que hoje empreendem pela reconquista de sua democracia. E a Verª Jussara Cony discorreu sobre a vitória de Salvador Allende nas eleições chilenas de mil novecentos e setenta e seu assassinato três anos após, durante o golpe militar sofrido por aquele país. Analisou as causas e conseqüências resultantes deste golpe, lamentando a participação de órgãos militares brasileiros no mesmo. Após, a Srª Presidente leu texto que acompanhava livro-ouro para a arrecadação de fundos com vistas à participação de exilados chilenos no plebiscito a ser realizado naquele país, em outubro, e concedeu a palavra ao Sr. João Carlos Sandoval Ortiz, que agradeceu a solidariedade dada pela Casa aos exilados chilenos residentes na Cidade. Ainda em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Hermes Dutra teceu comentários acerca das pesquisas eleitorais realizadas no País, com relação às eleições municipais de novembro. Ressaltou, em especial, pesquisas realizadas em Porto Alegre, que colocam o candidato do PMDB como o preferido pela população, analisando o assunto. Durante os trabalhos, o Sr. Presidente respondeu Questões de Ordem dos Vereadores Flávio Coulon, Hermes Dutra e Antonio Hohlfeldt, acerca da não-inclusão, na Ordem do Dia de hoje, dos projetos que se encontram em condições regimentais de discussão e votação. Os trabalhos estiveram suspensos por nove minutos, nos termos do art. 84, II do Regimento Interno. Às quinze horas e trinta minutos, constatada a inexistência de “quorum”, Srª Presidente levantou os trabalhos, registrando a presença dos Vereadores Antonio Hohlfeldt, Clóvis Brum, Gladis Mantelli, Hermes Dutra, Lauro Hagemann, Marcinho Medeiros e Wilton Araújo e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Artur Zanella, Gladis Mantelli e Lauro Hagemann e secretariados pelo Ver. Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1ª Secretária.
O SR. HERMES DUTRA (Questão
de Ordem): Eu
acredito que S. Exa. o Sr. Presidente, até tenha sido movida até por uma
sugestão que lhe dei para que convocasse uma reunião de lideranças para que num
dia da semana pudéssemos votar os projetos. Eu tenho a impressão que esta
reunião não aconteceu, mas mesmo que tenha sido realizada, este Projeto estava
em discussão, portanto, com ele não poderia ocorrer isso.
Eu requeiro a V. Exa. que, como Presidente, no exercício, determine
seja incluída na Ordem do Dia de hoje o referido Projeto.
O SR. PRESIDENTE: Eu diria que como nós temos a leitura e votação das
Atas e temos também o Grande Expediente, eu espero que neste período nós
consigamos saber como é que foi feita esta alteração.
O SR. JORGE GOULARTE: Para um Requerimento, Sr.
Presidente: requeiro inversão na ordem dos trabalhos, que a Pauta e Ordem do
Dia sejam efetuadas antes do Grande Expediente.
O SR. PRESIDENTE: Aponto o Requerimento do
Ver. Jorge Goularte, que somente será colocado em votação após a leitura das
Atas e o cumprimento do que determina a nossa Pauta de hoje.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT
(Questão de Ordem): Sr. Presidente, V. Exa. já respondeu ao Ver. Hermes Dutra, mas
gostaria, em nome da Liderança do PT, de fazerem minhas as palavras do Ver.
Hermes Dutra. Antes de tudo precisamos cumprir o Regimento da Casa. O Regimento
Interno é muito claro: explicita que não se podem interromper os processos,
como o de discussão e votação de um projeto. De maneira que também junto ao Requerimento do Ver. Hermes
Dutra, no sentido de que se inclua na votação do dia de hoje o Processo que
iniciamos a discussão na sexta-feira. Sr. Presidente, pediria vênia a V. Exa.
para solicitar, também, independentemente do Requerimento do Ver. Jorge
Goularte, de minha parte não há nenhum óbice, eu já havia solicitado o pedido
de Liderança tão logo me seja possível.
O SR. PRESIDENTE: O Requerimento de V. Exa.
também é meu tempo de Liderança com o Ver. Caio Lustosa.
O SR. CAIO LUSTOSA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, Sr. Jair Kritsche, Conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos
Humanos; integrantes da comunidade chilena aqui presentes. Há precisamente
quinze anos, na madrugada de 11 para 12 de setembro, a América Latina sofria um
de seus mais terríveis e abomináveis crimes com a destituição, o bombardeio do
Palácio Presidencial de La Moneda em Santiago do Chile e o holocausto de seu
líder e Presidente Salvador Allende. Hoje, portanto, Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, o mínimo que se pode fazer neste instante em que o povo chileno
debate-se, uma vez mais, pela recuperação de sua soberania, pela destituição de
um governo ilegítimo e arbitrário, o mínimo que se pode fazer é insistir no
protesto, estender o nosso abraço de solidariedade a todos os chilenos, certos
de que a retomada do processo democrático há de ser feita bem logo. Esta Casa
não poderia ficar alheia a esta mobilização que praticamente empolga a América
Latina por inteiro, em que chilenos exilados, parte daquele contingente de
milhares que foram, em número de quinze mil, assassinados pelo terrorismo
oficial da Ditadura, estão procurando levar a sua Pátria novamente para os
caminhos da democracia. Nós, aqui, tivemos entre nós alguém que hoje já não
está e que foi um Vereador de alta competência e de alto espírito público,
Valneri Antunes e que, desterrado do Brasil nos idos de 68, recebeu acolhida e
hospitalidade do povo chileno. Integrou-se no trabalho comunitário, solidário
do Governo da Frente Popular, liderado por Allende. Então, Sr. Presidente e
Srs. Vereadores, e companheiros chilenos que aqui estão, em nome da nossa
Bancada, o Partido da Social Democracia Brasileira, queremos reiterar a nossa
contínua e permanente solidariedade a todos vocês e comungar deste trabalho que
estão fazendo no sentido, inclusive, de angariar fundos para que os cidadãos
chilenos, radicados no Brasil, possam se deslocar para o seu território pátrio
e ali se incorporar ao contingente, em dúvida alguma, majoritário, imenso, de
seus concidadãos que desejam dizer um basta, um não à persistência do processo
ditatorial.
Desnecessário é repetir o quadro de derrocada em que vive o Chile hoje,
com quinhentos patriotas exilados, 5% de sua população, com salários aviltados
até os patamares da mais triste e vil pobreza. Enfim, o ônus trágico que toda
ditadura impinge a massa dos cidadãos.
Assim, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, e concluindo, nós queremos
saudar os compatriotas chilenas que aqui estão neste dia que é de luto ao
rememorar o martírio de um dos maiores líderes políticos da América Latina,
Salvador Allende, e de milhares de seus concidadãos. Repetindo, aquilo que ele
disse em seu último pronunciamento ao povo chileno, quando afirmava em relação
aos golpistas: eles têm a força, poderão avassalar-nos, mas não se detêm os
processos sociais com o crime e nem com a força, a história é nossa e é feita
pelos povos. Ficam vocês sabendo que muito mais cedo do que tarde, de novo,
irão-se abrir as grandes alamedas por onde passa o homem livre para construir
uma sociedade melhor. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Lembrando aos nossos caros
convidados que, por motivos regimentais, as pessoas que estão nas galerias não
podem se manifestar, eu convidaria o Sr. Juan Carlos Sandoval Ortiz para fazer
parte da Mesa, eis que os assuntos que serão tratados pelas diversas Lideranças
é a situação do Chile, e S. Sa. representaria, então, a colônia chilena em
Porto Alegre que, neste momento, coloca-se em oposição ao atual Governo
chileno. Eu convidaria, então, o Sr. Juan Carlos Sandoval Ortiz para tomar
lugar à Mesa.
(O Sr. Juan Carlos Sandoval Ortiz toma lugar à Mesa.)
Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum, pelo PMDB, em tempo de Liderança.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, a presença do PMDB em Comunicação de Liderança nesta tarde é para
se associar ao brado literário do povo chileno, cuja noite de martírio já soma
longos 15 anos. Ontem éramos nós, no Brasil. Continua o povo chileno lesado
duramente pelo terrível golpe militar, que não só se apossou das instituições
governamentais daquele país, como também assassinou o próprio líder máximo do
povo chileno, o ex-Presidente Salvador Allende. Sr. Presidente, não poderíamos
estar fora desta pregação, deste encaminhamento e desta realidade política,
qual seja a de contestar a violência que continua sendo praticada pelo governo
fascista do Chile, que escorraça o seu
povo, que prende, que tortura e que assassina impunemente, aos olhares de todo
o mundo. Hoje o Chile é, para a América Latina, uma vergonha e um
constrangimento profundo, pois a nossa América, em que pesem as tendências
militares golpistas, na última década, tem-se levantado e tem resgatado a
democracia. No entanto, Sr. Presidente, continua no Chile toda a sorte de
tortura, toda a sorte de perseguições, toda a sorte de violência, aos olhos não
só da América, mas do mundo inteiro. Não falo com a intenção de interferir nos
assuntos internos daquele País, mas falo pelas conseqüências danosas,
violentas, sanguinárias, que causa a ação do governo chileno à América que, na
última década, se encaminha para os
rumos democráticos. São 15 longos anos, Sr. Presidente. Para uns, de exílios,
para outros de torturas, para outros, que ainda sofrem nos cárceres da ditadura
chilena, uma noite longa demais. Leve, meu caro representante da colônia
chilena, leve a saudação, a homenagem e a solidariedade do Partido do Movimento
Democrático Brasileiro, que sonha e acredita num Chile livre, democrático, num
País aonde os seus irmãos, e os nosso irmãos americanos, possam conviver com
dignidade, fazendo o progresso do seu país, do seu povo, criando os seus filhos,
educando-os e alimentado-os para um Chile cada vez mais forte e mais
democrático. Não haverá, Sra. Presidente e Srs. Vereadores, mal que sempre
dure, e num dia, não muito distante, numa aurora, quem sabe em breve,
confraternizando não mais em lugares distantes da sua Pátria, de seus
familiares, mas com a sua gente, longe da tirania, longe da violência e das
torturas de um governo militar, que envergonha a América e ultraja todo o povo
civilizado. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE (Gladis
Mantelli): Aproveitamos
a oportunidade e a presença do Ver. Marcinho Medeiros, para que assuma a
vereança em lugar do Ver. Paulo Sant’Anna que está licenciado, e informamos que
fica dispensado do compromisso regimental, por já havê-lo prestado nesta
Legislatura, e, outrossim, informamos que V. Exa. integrará a Comissão de
Urbanismo, Transporte e Habitação. Com a palavra, o Ver. Antonio Hohlfeldt,
Líder do PT.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Exma. Sra.
Presidente, Sra. Gladis Mantelli, prezado companheiro Lauro Hagemann, na
Secretaria dos trabalhos, prezado companheiro Sandoval Ortiz, Srs. Vereadores,
prezados companheiros chilenos, amigo Jair Kritsche dos direitos humanos. Estes
pronunciamentos, combinados com as lideranças da Casa, não pretendem, como bem
registrou o Ver. Clóvis Brum, imiscuir-se em assuntos internos do Chile, mas,
ocorre, no entanto, que a ditadura chilena ultrapassa as fronteiras e tem muito
a ver com o Brasil. Afinal de contas, foram milhares de brasileiros que, após o
golpe de 64, encontraram, especialmente no Chile e nos chilenos, o seu abrigo,
o carinho e a possibilidade de retomarem as suas vidas. Foram muitos também os
brasileiros presos, talvez, alguns, segundo algumas versões, assassinados ao
longo de viagens, posteriores a prisão, em que estes brasileiros teriam sido
remetidos de voltas, através de vôos aéreos que nunca chegaram ao seu destino,
para a terra brasileira.
Mais do que isto, recentemente uma análise de um estudioso da forma
política brasileira registrava que a nova Constituição deste País – do Brasil –
seria única ao lado da Constituição fascista do Chile, a guardar a formação
militar acima do poder civil na organização política destas duas nações.
Portanto, muitas coisas nos ligam, formalmente, institucionalmente no Chile e
se nada disso houvesse, de qualquer forma, creio que para qualquer um de nós
que ao longo dos anos da ditadura brasileira se colocou sempre contra ela,
lutar, denunciar e apoiar aqueles que lutam e denunciam contra toda e qualquer
ditadura é, evidentemente, uma função, uma obrigação e é isto que nós estamos
tentando hoje fazer aqui. Este ato, no entanto, tem um outro objetivo. No
próximo dia 5 de outubro se realiza mais uma farsa de algumas que têm sido
montadas, tradicionalmente, pela ditadura de Pinochet. A farsa, desta vez, é um
plebiscito. Um plebiscito que pretende, eventualmente, manter Pinochet
resguardado formalmente por um poder civil. Mas é também um plebiscito que
deixa de lado, absolutamente, a todo e qualquer exilado chileno que viva em
qualquer país, inclusive no Brasil. Ocorre que quando Pinochet faz o anúncio de
que os exilados podem retornar ao Chile e exercer o direito de voto, na verdade
este anúncio ocorre já fora dos prazos possíveis para que estes chilenos
legalmente se inscrevam como eleitores e exerçam o seu poder de veto à
ditadura. Por isso mesmo o nosso pronunciamento é no sentido de apoiar a
proposta que o comitê de exilados chilenos, com sede no México e que coordena
todo o movimento na América Latina, faz, no sentido de que estes companheiros
chilenos tenham o direito e eu diria, o dever, de votarem nas suas pátrias
adotivas nos lugares onde hoje moram e tentam reconstruir suas vidas,
apresentando-se nos consulados do Chile, espalhados por todo o mundo, munidos de
sua identidade que comprove a sua condição de chilenos e aí, então, digam se
querem ou não, o apoio à ditadura ou se ao contrário, se querem o retorno real
à liberdade da sua Pátria.
É bom que se lembre, mais do que isto, que as questões vinculadas à ditadura
chilena tem a ver com o nosso País, até porque a moda dos golpes militares que
se iniciou no Continente do Cone Sul, através do Brasil, em 1964, atingiu o
Uruguai posteriormente e a Argentina e chegaria há alguns anos depois ao Chile,
não está de toda afastada. Não podemos esquecer que na Argentina Coronéis,
Capitães, Generais, continuam pressionando o governo civil a cada momento em
que a justiça civil ou os movimentos civis tentam julgar e fazer condenar
militares que descumpriram a Constituição e respondem não apenas pela morte de
milhares de argentinos, como respondem também pela corrupção e por desvios
monumentais na vida institucional daquele País durante o regime arbitrário.
É bom que se lembre também no Uruguai que esta luta perdura, é bom que
se lembre que também no Brasil e nós ainda vivemos dificuldades imensas, por
exemplo: na recente Constituinte para garantirmos a anistia plena a alguns dos
nossos condenados políticos notadamente os Sargentos e marinheiros nos
episódios que antecederam o golpe de 31 de março de 1964.
Portanto, companheiros chilenos no exílio, portanto, Srs. Vereadores,
Sra. Verª Gladis Mantelli na presidência dos trabalhos, é bom que lembremos que
hoje quando denunciamos a ditadura, quando denunciamos a farsa do plebiscito de
5 de outubro, quando apoiamos a luta pelo retorno dos direitos civis e da
democracia no Chile, não fazemos isso apenas pelos companheiros chilenos e pelo
Chile, fazemos isso também pelos companheiros brasileiros e pelo Brasil,
fazemos isso também por toda a humanidade. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Adão
Eliseu, que falará em nome da sua Bancada, o PDT e pela Bancada do PL.
O SR. ADÃO ELISEU: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores, Sr. Sandoval, representante do povo chileno nesta modesta
cerimônia, em que nós, nesta modesta Casa, Vereadores, e que apesar de pequena,
modesta, é o nascedouro das grandes soluções para os grandes problemas de nossa
Pátria, pois foi nas Câmaras de Vereadores que se discutiu, primeiro, a
República, onde primeiro se discutiram as grandes modificações que houve em
nossa Pátria. Me parece que em qualquer parte do mundo o nascedouro de todas as
soluções de todos os problemas, realmente nascem nas pequenas assembléias. Por esta
razão, Sr. Sandoval, nós, brasileiros, aqui nesta pequena tribuna, queremos
levar, e acima de tudo, em nome da Bancada do PDT, Partido Democrático
Trabalhista, a nossa saudação a todos os companheiros chilenos, que lutam pela
via democrática para assomarem ao poder novamente, naquele grande país. Quando
Allende assumiu o governo, no Chile, eu, que gostava de estudar as teorias
marxistas, fiquei surpreso. Um comunista assumir o poder pela via do voto, pela
via política eleitoral, me pareceu surpreendente. Contrariava, realmente, as
teorias marxistas que preconizavam que, para o comunista, ou o partido
comunista, assumir o poder, tem que ser pela derrubada violenta do poder
burguês, e a sua substituição, imediata, pelo poder proletário. Mas, quando
aconteceu isto, pensei: Marx falhou. Pois o povo chileno conseguiu demonstrar
que Marx estava errado. Qual não foi minha surpresa quando, tempos depois, a
reação se organiza, se reorganiza, e ela assume o poder de forma violenta, e
substitui o poder do povo pelo poder das armas, pelo poder fascista. Dessa
forma fica bem claro, fica nítido, fica cristalino que realmente Marx foi
insuperável na sua forma de prever a tomada do poder pelo poder do povo, pelo
poder proletário. E foi uma lição para a América Latina, e foi uma lição para
todos nós, especialmente para nós, brasileiros, especialmente para os partidos
comunistas brasileiros, que intentam se engajar e apoiar partidos de conotações
e componentes fascistas que assumiram o poder na esteira da proteção militar no
nosso País. Eu não consigo entender por que os partidos comunistas brasileiros
não assumem o seu colorido, a sua forma de luta, a sua forma de buscar o poder,
já que tivemos uma lição grandiosa no povo chileno, onde o povo realmente se
equivocou, onde o próprio Allende se equivocou, onde o próprio Partido
Comunista Chileno se equivocou. Foi uma lição para a América Latina, foi uma
lição para nós, brasileiros, foi uma lição para o mundo. Mas, neste momento em
que novamente o povo chileno procura, através da via democrática, através da
eleição direta, assumir o poder naquele grande país, sobre aquele grande povo,
nós, do PDT, deixamos aqui a nossa observação de que não cometam os mesmos
erros que cometeram aliando-se a partidos reacionários e conservadores, na
intenção de implantar um governo popular, um governo socialista. Esse não é o
caminho, nos parece, e a lição está aí. Fica, portanto, o nosso abraço, o
abraço fraternal da Bancada do PDT nesta Casa e os votos de que o povo chileno
consiga, desta vez, mesmo pela via democrática, mesmo pela via do voto direto,
mesmo pela eleição, assumir o governo naquele grande País e implantar o regime
popular, um regime totalmente diferente do regime imposto pelos militares
naquele País. Que, infelizmente, é um dos poucos países que ainda conservam o
poder das armas e não o poder das opiniões, na América Latina. Muito obrigado.
(Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Lauro
Hagemann, que fala pelo Partido Comunista Brasileiro.
O SR. LAURO HAGEMANN: Verª Gladis Mantelli, no
exercício da Presidência; prezado companheiro chileno Juan Carlos; Srs.
Vereadores, membros da colônia chilena em Porto Alegre; prezado amigo Jair
Kritsche, do Movimento dos Direitos Humanos.
Ontem fez 15 anos que Salvador Allende, Presidente Constitucional do
Chile foi deposto e violentamente assassinado pelas forças mais retrógradas do
Chile e do Continente. Todos nós ainda guardamos indelevelmente na memória
aqueles dramáticos acontecimentos que encheram de dor e de luto, milhares de
chilenos e sul-americanos e cidadãos do mundo, que almejam para nossas terras
dias mais justos, mais tranqüilos, em que a miséria, o sofrimento e a
exploração do homem pelo homem sejam superados por regimes autenticamente
democráticos e emanados da vontade da maioria.
São 15 anos de luta sem tréguas, de lutas que não tiveram um minuto de
descanso, a fim de que se possa reconduzir o Chile, e também a nossa Pátria no
rumo da democracia. E hoje, quando a ditadura chilena alardeia uma reconstrução
econômica, nós não podemos esquecer um recente artigo do ex-Ministro da
Economia e da Unidade Chilena, Pedro Buskowik, publicado no México, em que ele,
com a autoridade que lhe confere o longo trato das questões econômicas
chilenas, diz que esses dados são falaciosos e que, hoje, no Chile, se volta a
atingir os patamares de vinte anos atrás. Então, toda a campanha que se
pretende mostrar ao mundo de que o Chile hoje goza de um progresso econômico,
de uma democracia, entre aspas, não é fruto senão da repressão mais violenta,
acompanhada da recessão mais aguda como nós também conhecemos, como conhecem
outras pátrias sul-americanas.
Por isso, Srs. Vereadores, companheiros chilenos, podemos dizer que não
há desenvolvimento econômico sem a liberdade democrática em que a maioria do
povo seja o sujeito da História e não o objeto da História, como está
acontecendo hoje. O Partido Comunista Brasileiro saúda fraternalmente os
companheiros chilenos de todos os partidos. Nós sabemos também que o Partido
Comunista Chileno está empenhado na luta contra o plebiscito que se produzirá
no dia 5 de outubro pelo voto do não ao prosseguimento da ditadura sanguinária
de Pinochet e a nossa tarefa neste instante, em todos os quadrantes da América,
é isolar o regime ditatorial do Chile, isolar Pinochet. Deixá-lo a nu, perante
a opinião pública do Continente e do mundo para que não tenha prosseguimento,
através de um plebiscito, a campanha fraudulenta da democracia chilena. A nossa
tarefa neste instante e é isso que quer traduzir o nosso singelo ato nesta
Casa, hoje, é justamente de mostrar aos povos do Continente que a ditadura
chilena não tem futuro, que o futuro do Chile está na reconquista da
democracia, o exemplo chileno é aquele que nos deram diversos governantes e
principalmente Salvador Allende, que foi brutalmente retirado de um governo
constitucional pela força das armas. Nós queremos que o plebiscito de 5 de
outubro no Chile seja um rotundo não à continuidade deste movimento, que só tem
infelicitado o Chile e por extensão protagonizando exemplos sanguinários para o
restante da América.
Companheiros chilenos nós auguramos que a campanha de vocês, aqui e,
principalmente lá, seja vitoriosa. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, a Verª
Jussara Cony, que falará por sua Bancada, a do PC do B.
A SRA. JUSSARA CONY: Sra. Presidente, Verª Gladis
Mantelli, no exercício da presidência, companheiro Sandoval Ortiz,
representando a comunidade chilena, companheiro Jair Kritsche, Presidente do
Movimento de Justiça e Direitos Humanos, demais companheiros presentes neste
Plenário: em setembro de 1970, nas eleições presidenciais do Chile, Salvador
Allende, candidato da Unidade Popular, recebe a maioria dos votos do povo
chileno. Essa vitória, sem dúvida, foi o resultado de um longo período de lutas
populares no País. Três anos após, em setembro de 1973, no terceiro aniversário
da eleição de um governo comprometido com os interesses populares, milhares de
trabalhadores vão às ruas demonstrar o seu apoio a esse governo. Em 11 de
setembro, pelo apoio popular que o Governo de Allende tinha, os militares
desfecham o golpe contra um governo constitucional, e com a derrubada de
Allende se instala no Chile e na nossa América Latina mais uma ditadura, a de
Pinochet. Iniciou-se com o Governo de Allende um governo democrático que tomou
medidas populares e patrióticas como a encampação e a nacionalização das minas
de cobre. Naturalmente, a reação interna e externa levantou-se. Houve um
processo de sabotagem disseminada que provocava o desabastecimento e frustava a
política de redistribuição de renda. Destaque desse boicote foi o grande
“lockout” patronal de outubro de 72, que buscou derrubar Allende. O
imperialismo americano, com sempre, interveio flagrantemente em defesa dos
interesses dos seus monopólios. Washington forneceu verbas e assessoria a
sindicatos; jornais e partidos contrários a Allende; cortou créditos ao Chile;
estimulou uma campanha de desinformação e fuga de capitais, além de incitar os
militares e articularem tentativas golpistas. Entre 1970 e 1973 foi de mais de
oito milhões de dólares a ajuda do imperialismo norte-americano aos adversários
de Allende. Lamentável também foi a participação dos órgãos repressivos
brasileiros na organização do golpe. Ao mesmo tempo em que adestrava o governo
militar instalado no nosso País, um contingente especial de soldados para
atacar os combatentes do Araguaia que resistiam à Ditadura Brasileira, os
militares brasileiros envolviam-se com a ação golpista no Chile. Uma equipe do
DOPS de São Paulo deslocou-se para o Chile, a fim de cooperar com a repressão
naquele País.
O que demonstra, companheiros, a serviço de quê, está o militarismo em
nossos países e no mundo.
Mas a resistência do povo chileno, assim como a resistência de todos os
povos aí está: sábado, 50 mil partidários de esquerda silenciados com o golpe
de 73; domingo, num protesto contra o regime militar, a cargo das mulheres
chilenas, mães, esposas e filhas dos mortos durante e depois do golpe, às
portas da Catedral de Santiago, exatamente no momento em que o General
Presidente se dirigia ao País, pela rádio e televisão. Hoje é 11 de setembro.
“Não mais”, diziam dos cartazes levados pelas mulheres vestidas de preto, em
sinal de luto pela ditadura Pinochet, lideradas pelo grupo “Mulheres pela
Vida”, composto principalmente de familiares de 750 desaparecidos na Ditadura
Chilena.
Companheiros chilenos; companheiro Jair; Vereadores; a par da
solidariedade que nosso partido, o Partido Comunista do Brasil dá ao povo chileno
pela sua libertação, numa manifestação de solidariedade internacional,
reafirmamos, sim, que a luta dos povos pela sua libertação e pelas
transformações, se dará somente pelo processo revolucionário, tendo à frente a
classe operária.
Ao finalizar, nesse processo todo de luta, de resistência, do bravo
povo chileno, temos certeza que este povo dará um basta à ditadura Pinochet no
dia 5 de outubro.
Nossa solidariedade ao povo chileno na luta que nos une pela libertação
dos nossos povos, pela libertação da América Latina, pela independência, pela
soberania, e pelo socialismo. Não a Pinochet, também é o nosso compromisso, o
compromisso do Partido Comunista do Brasil, pelo compromisso que temos com essa
liberdade, com essa justiça e com socialismo. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não revisto pela oradora.)
A SRA. PRESIDENTE: Antes de passar a palavra ao
Sr. Juan Carlos Sandoval Ortiz gostaria de ler um texto que acompanha um
Livro-Ouro do Movimento Chileno pela volta da democracia já. (Lê.)
“Srs. Legisladores, irmãos brasileiros, devido a atual conjuntura do
povo chileno, no qual, depois de 15 anos de desrespeito aos direitos humanos,
se apresenta um plebiscito em 5 de outubro, em que o povo terá que decidir
entre apoiar o candidato Pinochet, votando sim, ou chamar para eleição a curto
prazo, votando não. É que nós, como chilenos e como cidadãos conscientes de
nossos direitos e obrigações, achamos necessário apoiar a volta da democracia e
o respeito aos direitos humanos no Chile que, além de ser um dever cívico e
moral, é também uma forma de apoio ao povo chileno.
Nossa viagem será acompanhada por jornalistas e apoiada por diversas
entidades ligadas as questões de direitos humanos, mas um dos nossos principais
problemas é conseguir a quantia de um milhão e 300 mil cruzados que é o custo
de obter um ônibus de ida e volta a Santiago do Chile.
Um outro problema é que a questão do pouco tempo, já que a nossa
pretensão é sair daqui em 1º de outubro, sábado. Sendo assim, necessitamos
reunir esta quantia no menor tempo possível. Agradecemos antecipadamente por
sua atenção e, certo de que contaremos com o seu apoio, nas reivindicações dos
direitos humanos de todos os povos.
Porto Alegre, 6 de setembro de 1988”.
Já assinaram o Livro esta Vereadora e o Ver. Lauro Hagemann. O Livro
está à disposição de todos os Vereadores que desejarem contribuir com a viagem
dos nossos amigos ao Chile, para manifestar o descontentamento e poderem, desta
forma, darem a sua solidariedade efetiva ao povo chileno.
Com a palavra, o Sr. Juan Carlos Sandoval Ortiz.
O SR. JUAN CARLOS SANDOVAL
ORTIZ: Sra.
Presidente, Vereadores, público. Nós, integrantes do movimento, queremos
agradecer o ato solene de vocês e manifestar-lhes que a nossa consciência nos
enviou a trabalhar neste projeto. Muitos de nós, lamentavelmente, não podemos
votar. Estamos lutando para que no dia de amanhã a gente possa voltar a um país
livre e soberano como foi até 1973. Por isso, desde já, fico agradecido e
esperamos a cooperação de todos. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Nós vamos interromper a
Sessão por 5 minutos para os agradecimentos e os contatos que as Lideranças
queiram fazer com o grupo que nos visita hoje.
(Suspendem-se os trabalhos às 15h15min.)
A SRA. PRESIDENTE (Gladis
Mantelli – às 15h24min): Estão reabertos os trabalhos. Solicito ao Sr. 3º Secretário que proceda
à verificação de “quorum”.
(O Sr. 3º Secretário procede à verificação de “quorum”.)
O SR. 3º SECRETÁRIO: Há “quorum”, Sra. Presidente.
O SR. ARANHA FILHO (Questão
de Ordem): Sra.
Presidente, no início da Sessão houve algumas Questões de Ordem perguntando
sobre o Projeto que estava sendo discutido na última sexta-feira. V. Exa. tem
alguma notícia para nos dar?
A SRA. PRESIDENTE: Sim, eu tenho um
Requerimento do Ver. Adão Eliseu solicitando o adiamento do mesmo por mais uma
Sessão. O Projeto será votado ou não, se nós tivermos “quorum” para dar
continuidade à Sessão.
Liderança com o PDS. Com a palavra, o Ver. Hermes Dutra.
O SR. HERMES DUTRA: Sra. Presidente e Srs.
Vereadores, eu quero fazer um rápido comentário sobre o resultado das pesquisas
eleitorais.
Devo dizer que, por formação universitária, acho a pesquisa um
instrumento extremamente válido e importante no processo de tomada de decisão.
Aliás, modernamente, a Administração não pode prescindir da pesquisa, seja de
mercado ou no caso específico da pesquisa política para estratégia das
campanhas eleitorais. Então, eu quero deixar bem claro que a pesquisa quando
feita com fundamento científico, ela é um instrumento extremamente valioso para
o processo de tomada de decisão.
Quero fazer um rápido comentário em relação aos resultados da pesquisa
que está aparecendo nos jornais na qual aponta o Sr. Antônio Britto como o
preferido dos porto-alegrenses. Não vou me somar a estes que ficam jogando
pedra na pesquisa, etc., etc. Eu acho que a pesquisa retrata um momento. Num
determinado momento, as pessoas, efetivamente, querem votar no candidato do
PMDB. Agora, o que me surpreende, Sra. Presidente e Srs. Vereadores, e isso é o
que quero externar a V. Exas., é que eu não sabia, eu não imaginava, não me
passava pela cabeça, jamais eu poderia supor que o contentamento da população
de Porto Alegre com o Sr. José Sarney e
com o Sr. Pedro Simon fosse a esse nível. Eu confesso, lisamente, que me
surpreendi. Eu imaginava que Porto Alegre, que os habitantes desta Cidade,
tinham algumas contas a ajustar com o Sr. José Sarney e com o Sr. Pedro Simon,
em termos eleitorais, confesso. Mas eu não sou de tapar o sol com a peneira, e
reconheço que, no momento, a população de Porto Alegre demonstra um grau de
satisfação, com o Sr. José Sarney e com o Sr. Pedro Simon, surpreendente.
Surpreendente, repito, e que, aliás, para mim, serve até mesmo como instrumento
de reflexão. Com um salário-mínimo, por exemplo, na ordem de 40 dólares, com os
professores do Estado do Rio Grande do Sul com o mais baixo salário, desde a
implantação do plano de carreira, com a política do Governo Federal altamente
nociva para o Estado do Rio Grande do Sul, com a insegurança grassando o lar de
cada cidadão dessa Cidade, pois, com tudo isso, a população de Porto Alegre diz
que está satisfeita com o Sr. José Sarney e com o Sr. Pedro Simon, pelo menos
momentaneamente. Vamos registrar, porque a pesquisa sempre retrata um momento,
um lapso. Então, naquele lapso, a população de Porto Alegre está satisfeita. O
Ver. Marcinho Medeiros diz que tende a crescer. Olhe, Vereador, eu acho que o
povo tem o direito de se expressar. E se esse povo de Porto Alegre acha que o
Dr. José Sarney e o Dr. Pedro Simon são excelentes, quem sou eu, um humilde
Vereador, para me opor à vontade do povo? Isto só me surpreende, porque na rua
me parece que o povo tem vergonha de dizer essas coisas, pois para nós diz uma coisa
e para o pesquisador diz outra. Esta é a realidade.
Eu já enfrentei discussões e debates defendendo-se os ditos governos
autoritários, governos não eleitos, vi pessoas serem contra, acremente, mas
nunca vi alguém, por exemplo, desejar mal ao Presidente da República. E hoje,
se conversarmos com a população, chega-se a esse ponto! Deseja-se mal ao
Presidente da República! Ainda hoje há uma charge no jornal sobre a rodada que
o coitado do Senna deu, no qual é colocado o Brasil, com quatro rodas, com o Dr.
Sarney dentro como se fosse o pensamento do povo brasileiro. Diante desta
situação, Ver. Marcinho Medeiros, eu tenho todo o direito de me surpreender com
isto aí. Este índice da população de Porto Alegre ao Sr. José Sarney e ao
Governador Pedro Simon é surpreendente. Imaginem, nem o Ver. Marcinho Medeiros
tinha coragem de vestir a camiseta do Sarney e do Pedro Simon! Agora, pelo que
eu estou vendo, se continuar a aumentar cada vez mais, certamente S. Exa. vai
sair à rua, vestindo uma camiseta escrito José Sarney à frente e, nas costas,
Pedro Simon.
E viva o povo porto-alegrense!
Afinal de contas, a nós, políticos, só cabe acatar esta manifestação
popular. Agora, faço isto um pouco surpreso, Sra. Presidente. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Em razão da inexistência de
“quorum” para a continuidade dos trabalhos da presente Sessão, registramos as
presenças dos Vereadores Antonio Hohlfeldt, Clóvis Brum, Gladis Mantelli,
Hermes Dutra, Lauro Hagemann, Marcinho Medeiros e Wilton Araújo.
Estão encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 15h30min.)
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